Anacronismo no meio do deserto
Anacronismo no meio do deserto. Anacronismo do tempo, no espaço. Cultura versus tradição. O aço cinzento, imaculado, no verde e terra. Oásis anacrónico. Bonecos desarticulados ao sabor da agressão sonora. As cores e as luzes a confundirem em vez de clarificarem e iluminarem. No entanto, o sabor do gin a adoçar-me os sentidos, a cumplicizar-me. A mímica dos rostos e das bocas, sorrisos e olhares mudos. O amargo do doce violento envolve-nos e absorve-nos, à medida que nos viola. O meu cérebro contenta-se, enfim, com o seu descontentamento. Diverte-se com a sua ausência, com o seu não envolvimento com o presente, com a sua passividade crítica confortável, no seu juízo perfeito e alienado. Embrenhado no anacronismo, vencido mas vencedor. Os sabores verde e terra embotados mas presentes, indeléveis, e felizes, prisioneiros. O fumo do tabaco enleia-se, nos cabelos e nas ideias, violenta as narinas, mas acalma as dúvidas, as incertezas. Dulcifica-me enquanto me assassina. Eleva-se um universo de baixeza, um navio das profundezas do mar, onde não chega a luz. Universo de loja, de hipermercado. Não deixem as pérolas do meu pensamento soçobrarem sob as vagas dos non sense comuns em anacronismos. A nós, a terra e o verde. Aqui d'el Rei. Movimentam-se sombras, para além do meu quotidiano, empurradas por aquilo que eu não quero. Pela abominação anacrónica do quotidiano surreal. Pela máquina subjugadora, personificada pelos gonzos soltos do anacronismo real. Declino por não poder conter torrentes de lava ardente, alucinações colectivas onde não entro, sonhos pacíficos, carneiros, estupidificantes. Uma luz branca não é suficiente, a maré de rosas espera-nos, do outro lado da Lua. Brisas saarianas agitam-nos e é o fim, a festa continua mas eu não me apetece. Rasgam-nos pelo meridiano oculto e fazem o que querem, violentos. Vagas de ratazanas musicais e de lobos visuais a beijarem as cadelas osculantes em delírio. É o negar de uma época, de uma raça, o alvorecer de uma nova desordem, a vitória do anacronismo, a morte do verde da terra, …de mim.
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