Wednesday, February 09, 2005

Nunca sabemos

nunca sabemos para onde vamos

nem como

por vezes ... há um apetecer fortíssimo

mas nunca conseguimos definir de quê

e ali ficamos, vítimas e carrascos

à espera que venha alguém ou algo que faça sentido,

que aponte qualquer coisa, sei lá

fazemos figura de parvos à espera

ridículos na paragem do autocarro

com destino ao Nirvana mais próximo e mais barato

olhamos céus azuis há tanto tempo que já nos parecem cinzentos

olhamos, mas nunca nos é permitido alcançá-los

nem tocá-los, sequer ao de leve

caminhamos satisfeitos pela terra que,

quando nos apercebemos,

deixou de ser nova

onde está o perfume

o delírio das cores

a orgia das formas

o deleite do calor do sol

a doce carícia do luar

sempre o mais erótico

e a promessa

a promessa

fomos enganados

não foi para esta viagem que pagámos

já não tenho medo de nada

nunca sabemos onde vamos

já não me apetece queimar olhos em olhares de fogo

aspirar o perfume subtil de cabelos de sereia em chamas

já não me apetece transcender-me e retornar

sublimar o mais negro da maior profundidade do ser

e ascender envolto no mais delicado perfume

na mais alva virtude

ascender

já não me apetece

quero mesmo é rastejar no meio dos excessos corruptos

deliciar-me com as maiores enormidades debaixo do sol

sorrir enquanto imolo fatias inteiras do meu próprio cérebro

empréstimo inútil ... extra de luxo que se tornou um empecilho

quero o meu dinheiro de volta

e parece que ainda há uma coisa chamada amor

que nos escorrega por entre os dedos

e não mais o contemos

maravilha prometida

tão falsa como todas as outras

divina loucura, bizarria infame

monumento ao erro

nunca sabemos para onde vamos

nem como

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