Tuesday, March 08, 2005

Espectador

Espectador

Sou um espectador

Um mero espectador

Da vida

Cai-me em cima a chuva

Sinto calor

E os perfumes do Verão

A subir pelas narinas acima

Mas sou um espectador

Um espectador da vida

Sinto a dor

Quando o sangue jorra

Ou aquela cá dentro

Quando pisam qualquer coisa

Mas sou um espectador

Um espectador da vida

Gelo de frio

Quando o vento cortante

Acaricia a minha face

E penetra nas roupas quentes

Mas sou um espectador

Um espectador da vida

A vida passa por mim

Sem pedir licença

Esvai-se nos anos

Sem pedir perdão

Mas sou um espectador

Um espectador da vida

Vejo-me, atónito

A ser o que sou

A fazer o que faço

Que representação

E as outras caras

As máscaras variadas

Recurso de actor

E as outras vidas

Que se somem igualmente

Que se transfiguram

E me transformam

Em mais um novo outro

Em mais um espectador

Um espectador da vida

É então que, alarmado, compreendo

Que eu não sou um mero espectador da vida

Sou uma multidão que assiste

E que, no entanto, não são eu

Porque eu sou outro

O outro que assisto impávido

À multidão de eus que assistem

Espectadores da vida

Meros, meros espectadores…

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