Espectador
Espectador
Sou um espectador
Um mero espectador
Da vida
Cai-me em cima a chuva
Sinto calor
E os perfumes do Verão
A subir pelas narinas acima
Mas sou um espectador
Um espectador da vida
Sinto a dor
Quando o sangue jorra
Ou aquela cá dentro
Quando pisam qualquer coisa
Mas sou um espectador
Um espectador da vida
Gelo de frio
Quando o vento cortante
Acaricia a minha face
E penetra nas roupas quentes
Mas sou um espectador
Um espectador da vida
A vida passa por mim
Sem pedir licença
Esvai-se nos anos
Sem pedir perdão
Mas sou um espectador
Um espectador da vida
Vejo-me, atónito
A ser o que sou
A fazer o que faço
Que representação
E as outras caras
As máscaras variadas
Recurso de actor
E as outras vidas
Que se somem igualmente
Que se transfiguram
E me transformam
Em mais um novo outro
Em mais um espectador
Um espectador da vida
É então que, alarmado, compreendo
Que eu não sou um mero espectador da vida
Sou uma multidão que assiste
E que, no entanto, não são eu
Porque eu sou outro
O outro que assisto impávido
À multidão de eus que assistem
Espectadores da vida
Meros, meros espectadores…
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