Saturday, May 14, 2011

saudades de casa

Olhei a profundidade negra da vida
com os olhos cavados da noite
o céu azul não me satisfazia
o ritmo louco a martelar
tive então a certeza de que alguma coisa falhou
de que apenas podemos assistir impotentes
ao devastar dos mais íntimos tesouros
que trouxemos, confiantes
não sei ainda bem de onde
e foi ao ver o mar que algo na minha alma acalmou um pouco
ah, o mar
imenso, omnipotente e frágil ao mesmo tempo
fechei os olhos e fingi que tinha morrido
não me pareceu assim tão mau
a calma, por fim
a ausência de dor
a consciência fundida no universo, nos universos, no mar
ser tudo de novo sem o sofrimento
amar tudo de novo sem a limitação do tempo
as ilusões que nos vão enleando, como pitões
cegando-nos antes de apertarem, inexoravelmente
por isso é melhor ser mundo, ser mar
é melhor partir, que chegar

... já começo a ter saudades de casa.

Tuesday, May 10, 2011

Monday, May 09, 2011

A imensidão do nada

A imensidão do nada

Uma gaivota que grita

todos os gritos de revolta

todas as lutas da evolução

todos os suspiros da criação

e o nada revolteia como se fosse tudo

um universo mais

que diferença fará?

Uma onda mais que morre na praia

ou que se sublima em sol, areia e amor

só mais uma onda

só mais um universo

um mar

que diferença fará?


Milhões são mortos

mas todas as penas de todas as aves são contabilizadas

como pode ser?

como pode?


Há uma roda, que tudo destina

Um ciclo, que tudo retorna

o bem e o mal, águas abundantes da criação

o amor como aguadeiro

e uma luz pálida preside

ao descer da espada

ninguém pode fugir

o tempo é a armadilha perfeita

as emoções o visco

e as palavras apenas palha

as palavras apenas palha


Bem vindo

agora que já completaste o círculo

eis-te aqui de novo

bem menos desafiador

mais sábio e conhecedor

gosto do teu equilíbrio

agridoce, zen

o coração maior que tudo

a consciência perfeita

a constatar imperfeições

a onda na praia que volta

regressa de onde veio

e retorna para de onde não voltará

meras folhas que caem ao primeiro vento

emoções que descolam como selos velhos

e o ouro por debaixo a reluzir

oh, meu deus, é mesmo verdade!

gente de pouca fé, vedes

o ouro reside no nada imenso de todos os universos

o ouro é afinal o amor

e poucos suspeitavam

e nenhum acreditava

na imensidão do nada

na imensidão do amor