saudades de casa
Olhei a profundidade negra da vida
com os olhos cavados da noite
o céu azul não me satisfazia
o ritmo louco a martelar
tive então a certeza de que alguma coisa falhou
de que apenas podemos assistir impotentes
ao devastar dos mais íntimos tesouros
que trouxemos, confiantes
não sei ainda bem de onde
e foi ao ver o mar que algo na minha alma acalmou um pouco
ah, o mar
imenso, omnipotente e frágil ao mesmo tempo
fechei os olhos e fingi que tinha morrido
não me pareceu assim tão mau
a calma, por fim
a ausência de dor
a consciência fundida no universo, nos universos, no mar
ser tudo de novo sem o sofrimento
amar tudo de novo sem a limitação do tempo
as ilusões que nos vão enleando, como pitões
cegando-nos antes de apertarem, inexoravelmente
por isso é melhor ser mundo, ser mar
é melhor partir, que chegar
... já começo a ter saudades de casa.
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