Saturday, July 23, 2011

Pairar

Pairar...

voar, sem tocar

nos pés de ninguém

só cabeças ao vento

e orelhas felizes

nuvens indisciplinadas

e folhas rodopiantes

o sol de perto

a ver os sonhos

a ter o que não se sonha

a compreender

voar em liberdade

tentando pairar

flutuar, sem peso

deslizando na brisa

o chão perto

chapéus voam

se foram amarelos

e luvas escarlates

só se forem amarelas

abençoadas

excomungadas

só me apetece chorar

a ter-te truncada

a ter-te amargurada

viciada, amaldiçoada

pára de me revoltear

as ideias enrolantes

segue em frente

ao pé do amor, vira à esquerda

e ama, como se não houvesse amanhã

ironia do não haver

avançada, ironizada

vamos amanhã todos

atrás do passado fugidio

passar as mãos pelas palavras

agrestes, secas

vamos acariciar cérebros expostos

células deslumbradas

avisadas, em tons de azul

em ânsias de madrugada tímida

de haver sem querer

e perder o mais belo nascer

o mais belo solar

mascarado de lua, de raiva

cravo os dedos na mão

amando com todos os poros

armando uma cena desviada

alarmada e alaranjada

posso haver apenas amanhãs

mas deixo de levar as capas para brincar aos amarelos

zanga ferrada, antiga, antiga

e deixar-me ir

ao sabor do sabor

ao amargurar do amor

anátema silencioso do deslevo mais enrugado

iluminado pelas minhas mais luminosas

partes, compartes, artes

avisem-me quando não puder mais

pairar a meu gosto

desgosto em agosto

aniversário de mosto

mais celebrado o aniversado

alimado de torcer o mais bem amado nariz

ao ranger da aurora, da farsa

não podemos apanhar mais do que o dia

o dia a dia, avantajado

na sua insignificância morna

ao entardecer

sorvendo a tarde perfumada

em tragos de trazer

de perceber o prazer

que é, ou não é, nem deixa de ser

para onde vai a estarrecer

depois de pairar a fugir

no ar, no areal

a voar, com a elegância do pardal

do cenário mais ácido possível

ou não

texturas loucas, a saber a limão

houve, em tempos, aqui um rei

uma mágoa mor

antes do dilúvio do meu delírio

pairemos então, ligeiramente

volitemos alegremente

o labor de saber o amor

de voar ao sabor de sabe-se lá o quê

voemos livremente, para lá da liberdade

corramos a pé e sentados

almejaremos alcançar

chuva, marulhar e trovejar

sentados ao luar

arco íris para decorar

ai deste delírio livrar

ao ar, ao ar

o que é preciso é voar.

Friday, July 22, 2011

crianças, finalmente!

O teu sorriso cegou-me

galáxias aproximaram-se

mundos moveram-se das suas órbitas

e as estrelas regozijaram-se

só podia pensar

que sonhava

um sonho pateta

impossível


senti a tua doçura na língua

o teu perfume no palato

a tua pele no meu cérebro

toda a tua inebriância

a toldar-me os sentidos rendidos


rios saíram de seus leitos

mães aclamaram os grandes deuses de outrora

animais mitológicos nasceram

a Terra rejubilou

e a Lua tremeu de emoção

os mares limitaram-se a embalar uma nova maré

uma nova brisa, perfumada em tua honra

e as leoas saíram à caça de novas presas

o luar a iluminar

um calor perfumado a sufocar os sentidos

perdemo-nos na poeira

naufragamos irremediavelmente na aventura

de um novo começo

e admiramo-nos, embasbacados

das revoluções deste universo

e dos outros

uma nova era se aproxima

é preciso amar de novo

afagar as cabeças abatidas

apertar os ombros descaídos

ressuscitar os corações embalsamados

reanimar os sentidos mumificados

desta vez vamos conseguir


quem sou eu

quem somos nós

nós?


E uma nova onda se espraia no areal da evolução humana

uma nova vaga, um novo espírito

tantos anos à espera sem nunca vacilar

os sonhos não são sonhos

são premonições

vislumbres do futuro que já existe, algures

já que o tempo é apenas uma ilusão

uma distorção holográfica circular

concebida para parecer linear


Um dia vamos ser felizes, prometo.

Vamos divagar e relembrar e contar e rir

destes tempos negros, desta era sem esperança

sem amor


e vamos voar, finalmente

aprender para que servem as asas, finalmente

finalmente


amar o céu da mesma forma que amamos a terra e o mar

espraiarmo-nos e sermos unos com a imensidão azul

nuvens como castelos, guardiões de milhares de pores de sol

brincadeiras inocentes, a alegria mais sã

o coração a palpitar de tão vivo


crianças,

finalmente!

tempo circular